segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Lugares

Em certos momentos da nossa vida, parámos. Olhamos à volta, refletimos. «Será que já passei aqui? Será que ando às voltas, e já aqui estive?» Tudo isto é metafórico, tudo isto é vago. O que realmente acontece são saudades. Saudades dum passado livre, ou dum presente que já não me deixa viver. Parámos no meio da nossa caminhada para pegar numa pedrinha, e tentar reconhecer nela uma pedrinha igual àquela da nossa infância, aquela pedrinha que agora nos possa guiar. Paramos no meio do nosso caminho para simplesmente evocar no tempo e no espaço algo por onde já passamos, um dia, e talvez possamos voltar a passar.
Aí, ouvimos risos nos cantos das andorinhas, gritos de crianças a brincar nas folhas agitadas pelo vento forte, e serenidade das nossas camas no azul do céu. Quantas e quantas são as memórias, enquanto o presente não tem o que oferecer, nada a propôr contra tais recordações. Simplesmente, fica desarmado, fica vago, difícil de suportar. O que nós antes vivemos da forma mais natural e espontânea, agora valorizamos como algo fora do comum, uma relíquia. Quem disse que a riqueza traz felicidade esqueceu-se que a riqueza não compra nada além de outras riquezas. Mas e o resto? O que realmente importa? Quantos reis e rainhas morreram sem experimentar andar descalços em plena rua, estar só e ter em que pensar, brincar à margem dum rio, atirar pedras, portar-se simplesmente normal?! E quanto creceu, quantos deles terão verdadeiramente sentido a dor? A falta de alguém? O amor? Eu lembro-me, e sei que o meu lugar nunca será aqui, num sítio só. Já fui de longe, sou daqui, mas serei de todo o mundo. O meu lugar não é aqui, é na floresta, na cidade, no campo, no mar, no rio e no ar. O meu lugar é onde não estou. Onde posso andar, saltar, correr, ser livre, e quando quiser, partir, outra vez. Mais uma e mais uma, sem fim e sem destino, sem noção de tempo ou espaço, sem rumo, sem mapa, sem objeções. Encontrar pessoas como eu, deixá-las ir também a elas para outro lugar onde pertençam, sem nunca lá terem estado, pessoas que procuram apenas aquilo que nunca encontraram, aquilo que nunca conheceram. Pessoas, como eu. Simples, só. E quando não souber para que lado ir num cruzamento, vou recordar o passado, trazer novamente à alma, as memórias. Essas sim, sempre saberão escolher um caminho. Assim, quando parar novamente, será por pouco tempo, pois achei a bússola dentro de mim. E a pedrinha escolheu o caminho, de novo. Foto minha.

frase dois

E se, quando menos esperas aparece quem mais esperas? Deitarás fora mais uma vez, na esperança que terás sempre alguém por aparecer, cada vez melhor? E se, da próxima vez, não houver próximo alguém? E se, da próxima vez, estarás sozinho? O tempo não faz as pessoas aparecerem, o tempo faz com que as pessoas que apareceram, se cansem de não as aceitarmos, e aí, outras nem virão, irão ter com aqueles que não querem mais e melhor